Com vinte e cinco anos dedicados à magistratura, a baiana Luislinda Valois agrega o título de primeira juíza negra do país. Como muitos negros brasileiros, em especial as mulheres negras, sofreu situações de preconceitos durante toda a vida. Estas situações motivaram-na a registrar a difícil realidade do afro-descendente no livro “O Negro no Século XXI”, que será lançado pelas Editoras Saraiva e Juruá, no próximo dia 26 de agosto, em Salvador.
Aos nove anos, Luislinda ouviu de um professor que deveria “parar de estudar para cozinhar feijoada em casa de branco”. Como juíza, ela já proferiu sentenças inéditas. Uma delas – a primeira contra o racismo no Brasil – integra o acervo de um dos principais museus de Paris.
Confira abaixo uma crítica sobre o livro publicada na Revista Muito, do Jornal A TARDE, em 25/07/09 (por Tatiana Mendonça): “Toda vida dá um livro? A história da baiana Luislinda Dias de Valois Santos renderia um dos bons. Teria aquele tom épico de quem venceu a pobreza e cumpriu uma promessa, deixaria no finalzinho aquela faísca inspiradora capaz de nos fazer acreditar que basta trabalhar e persistir para nos tornarmos quem queremos ser. O professor de Luislinda esperava que ela passasse a vida cozinhando na casa dos brancos, teve a crueldade de lhe dizer isso, mas Luislinda, então com 9 anos, retrucou-o dizendo que na verdade seria juíza. Dito e feito. Tornou-se a primeira juíza negra do Brasil, não à toa a primeira magistrada a proferir uma sentença contra racismo no país”.
Uma pena, mas não é disso de que trata seu primeiro livro, “O negro no século XXI” (Editora Juruá), que Luislinda lança em agosto na Bahia (em junho foi lançado em Curitiba, onde a magistrada morou por oito anos). Em setenta e duas páginas, a juíza tenta fazer um panorama da situação atual do negro em diversas áreas (lazer, educação, trabalho, justiça social, políticas públicas, esporte) e acaba perdendo-se na abrangência desses temas. Luislinda tem o mérito de trocar o ‘juridiquês’ por uma linguagem simples e direta, mas o resultado é um texto que tem mais generalizações que referências, mais lugares-comuns que histórias do seu cotidiano com as quais poderia ter presenteado os leitores.
Leia um trecho do livro:
“Precisamos garantir aos negros pobres, das periferias, o direito à água potável, ao ar puro, à não contaminação, ao saneamento básico, ao abrigo digno, à alimentação saudável. Isso não ocorre, atualmente, nas grandes metrópoles, que não oferecem políticas públicas para as comunidades periféricas. Poucas são as oportunidades criadas no intuito de construir uma sociedade mais democrática e humana. Quando as necessidades básicas forem garantidas, poderemos alcançar o desenvolvimento de uma classe voltada a Ser mais e não a Ter mais, na qual atualmente o negro poderá integrar-se ao contexto como parte atuante na promoção do desenvolvimento”.
Lançamento do livro “O negro no século XXI”, de Luislinda Dias de Valois Santos, 26 de agosto de 2009, na Livraria Saraiva (Salvador Shopping), às 19h30.