Crítica de Cinema
Sabe-se que Chaplin foi um dos principais representantes da comédia, gênero que começou a ser explorado no cinema já nas primeiras décadas de sua existência, com ênfase no burlesco (relativo à comédia, cômico), no intuito de entreter suas plateias, na sua maioria oriunda das classes populares e pouco escolarizadas. Os filmes produzidos pelos estúdios Keystone Pictures e Essanay, entre os anos de 1914 e 1915, que revelaram e consagraram o próprio Chaplin são ilustrativos disso. Para M. Winokur (1996, p. 104), “o foco da comédia transformadora é o corpo humano ou os objetos que o rodeiam. Todas as transformações são mudanças no mundo material do corpo do artista, nos artefatos que o cercam ou no corpo de um outro, normalmente o seu antagonista”. Isto quer dizer que o vestir-se, o maquiar-se e os objetos de cena são recorrentes artifícios propiciadores do riso.
No caso de Chaplin, seu estilo e técnicas para fazer humor ainda hoje servem como referencial em programas televisivos, desenhos animados e filmes do gênero (cf. Chaves, Tom e Jerry etc.). Na maioria dos filmes de curta-metragem protagonizados e/ou dirigidos por Chaplin, os figurinos e caracterizações dos personagens variam com atores e atrizes usando desde roupas mais pomposas às mais simples, muitas vezes para demarcar determinada classe social. A caracterização e composição de personagens são também constantemente utilizadas para criar situações engraçadas ou, no mínimo, de estranhamento (por exemplo, excesso de bigodes e cabelos nos homens, excesso de maquiagem nas mulheres), como no filme Carlitos dentista (Laughing gas, 1914), no qual os personagens masculinos usam roupas largas e barbas mal colocadas; ou em Carlitos ciumento (A busy day, 1914), em que Chaplin aparece travestido de mulher.
Os filmes cômicos caracterizam-se tanto pela inclusão de piadas e brincadeiras com ênfase no visual (como nos filmes mudos) quanto verbais (a partir da inclusão de falas e do cinema sonoro). Assim, desde o começo produziram-se filmes com o objetivo de mostrar imagens que alegravam e causavam riso no espectador, através de cenas de perseguição, com golpes, quedas e surpresas dos personagens, mesmo sem o acompanhamento de sons. As cenas em que haviam agressões e pancadas eram desencadeadas com o apoio de objetos cênicos como martelos, tijolos, pedaços de madeira, facas, entre outros, partes do cenário (portas, escadas), além das próprias partes do corpo (braços, pernas), utilizadas, principalmente pelo personagem de Chaplin, para golpear e machucar seus antagonistas (se bem que nem sempre as agressões tinham qualquer motivo), criando, dessa forma, situações de riso.
Lecco França é professor
universitário, pesquisador, curador e crítico de cinema. Doutor em Letras pelo
Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura da Universidade Federal da
Bahia.
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