A princípio, O filho de
Joseph (2016), dirigido por Eugène Green, parecia ser apenas mais uma
história de um garoto em busca do pai. Nas cenas iniciais, por exemplo, o
personagem Vincent depara-se com um café chamado “Pai e filho”. Em diferentes
momentos, também, o jovem interroga à mãe acerca de quem seria seu pai.
Mas o que o filme se propõe
a fazer é explorar as diferentes possibilidades de paternidade. Temos a mãe de
Vincent, Marie, que assume sozinha a tarefa de criar o filho; o editor de
livros Oscar, suposto pai biológico do garoto, que mantém uma relação distante
com os outros filhos, o que, inclusive, dificulta uma aproximação entre eles; e
Joseph, irmão de Oscar, que acolhe o jovem no momento mais inesperado.
A trama é, no fundo, uma releitura dos episódios bíblicos do sacrifício de Isaac, filho de Abraão – ilustrado na pintura de Caravaggio, cuja reprodução está na parede do quarto de Vincent – e da história de José, que assumiu o filho de Maria.
Os personagens Vincent, Oscar e Joseph apresentam pontos de vista diferentes sobre a paternidade. Para Vincent, o pai seria fundamental para retirá-lo da fase “estranha” que vivia. Oscar recusava qualquer possibilidade de ser pai, apesar dos três filhos legítimos. Joseph, contudo, mesmo tendo sido deserdado pelo pai, assume o papel sem qualquer dificuldade. É graças a Joseph que Vincent, típico adolescente rebelde, de expressões agressivas, falas fortes, principalmente nos diálogos com a mãe, e atitudes audaciosas vai, aos poucos, se mostrando mais calmo e extrovertido.
Em diversos momentos, os personagens olham diretamente para a câmera, na tentativa de estabelecer uma maior aproximação com o espectador. Os diálogos são, na sua maioria, secos e curtos e a interação entre os personagens é limitada, imprimindo um tom de distanciamento físico e emocional. A câmera, não raro, foca em espaços e objetos por longos segundos, com a ausência quase total de som. São essas estratégias de construção narrativa que fazem com que O filho de Joseph seja um filme original em comparação com outros de mesma temática.
Lecco França é professor universitário,
pesquisador, curador e crítico de cinema. Doutor em Letras pelo Programa de
Pós-graduação em Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia.
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